Diante de um mercado consumidor cada vez mais exigente, mesmo os tratamentos capilares mais comuns, oferecidos pelos salões de beleza de forma geral, precisam ser realizados com mais atenção e cuidado pelos profissionais que atuam nesses ambientes. Afinal, um resultado frustrante prejudica a imagem de qualquer um.
Por isso, é cada vez mais comum que o tratamento dos cabelos seja feito com base na terapia capilar, ciência que possibilita o diagnóstico e tratamento adequados dos problemas encontrados tanto no cabelo, quanto no couro cabeludo.
Nesse artigo, ajudaremos você a entender como fazer esse diagnóstico, também conhecido como análise capilar. Vamos lá?
Converse com o cliente e use seu conhecimento

Um correto diagnóstico da situação do cabelo é o primeiro passo da terapia capilar. Para fazê-lo, é fundamental que o cabeleireiro profissional tenha, no mínimo, noções básicas de Tricologia.
A Tricologia, do grego thricos (cabelos) + logos (estudo), é um ramo da ciência que surgiu na Inglaterra, em 1902. Ela permite que o cabeleireiro profissional identifique e solucione muitos dos problemas encontrados no cabelo e no couro cabeludo, contribuindo e estimulando a qualidade de vida dos clientes do seu salão.
Com uma base sólida de conhecimentos nessa área, é possível realizar o procedimento conhecido como “anamnese”. Basicamente, é o momento em que o cabeleireiro conversa com o cliente.
Nessa etapa de consulta ao cliente, você pode coletar informações precisas, que vão ajudá-lo a determinar o estado do cabelo e do couro cabelo, além de elaborar um protocolo de tratamento correto e eficaz.
Por fim, você também pode utilizar uma câmera que amplie a imagem 250 vezes ou mais, como a exibida na imagem ao lado. Esse tipo de equipamento fornece uma imagem precisa e sem o que chamamos de “aberrações cromáticas”.
Explique e combine com o cliente o que será feito
Antes de dar início a um tratamento, sempre explique ao cliente todos os procedimentos que serão realizados, inclusive os testes – sobre os quais falaremos no tópico a seguir. Se houver qualquer dúvida sobre o resultado final do trabalho proposto, o cliente deve ser informado.
Nessa etapa, é recomendada a utilização de um ficheiro de diagnóstico, para registar todos os aspectos da análise capilar.
Dependendo do procedimento que será realizado, o mais adequado é pedir ao cliente que assine um documento, declarando que concorda com o modo de atuação sugerido e que tem conhecimento de quaisquer reservas que possa ter.
Faça testes para validar suas observações
Os sentidos de visão, olfato e tato são uma fonte de informação para o cabeleireiro experiente. No entanto, são necessários testes diretos e adicionais para confirmar o estado do córtex capilar, a porosidade do cabelo, qualquer sensibilidade alérgica a um produto e a presença de químicos, aplicados em tratamentos anteriores.
Vamos conhecer alguns deles?

Teste de porosidade
A porosidade é uma capacidade do cabelo em absorver a humidade. O cabelo danificado – normalmente carregado de forma negativa – será altamente poroso, com as camadas da cutícula aberta expondo o córtex capilar interior.
O cabelo nesse estado tem um aspecto baço e seco, e pode ser quebradiço. Quanto mais poroso for, mais rapidamente um tratamento terá efeito e o tempo de processamento deverá ser ajustado de acordo.
O ideal é cortar o cabelo danificado e muito poroso antes de realizar uma coloração ou permanente. Por vezes, a porosidade varia, o que é particularmente comum no cabelo longo, com raízes de maior oleosidade e pontas secas.
Para fazer esse teste, com uma mão, segure o cabelo ou grupo de fios pela ponta da haste capilar. Com a outra mão, deslize o polegar e o dedo indicador, desde as ponta, até a base. Avalie a rugosidade ou suavidade do cabelo, utilizando as seguintes indicações para determinar um modo de ação:
- Suave e brilhante – A cutícula é densa e forte. O cabelo com baixa porosidade pode ter falta de hidratação e resistência ao tratamento;
- Ligeiramente áspero – normalmente, indica um cabelo saudável e normal;
- Áspero;
- Demasiado poroso – o cabelo pode ter sido tratado anteriormente. Utilize um produto de pré-condicionador;
- Muito áspero, quebradiço e seco – indica cabelo danificado, que pode ser o resultado de demasiados trabalhos técnicos e ferramentas térmicas. Aplique um tratamento de reparação ou corte as partes danificadas.
Teste de diâmetro
O cabelo fino é, normalmente, mais propenso ao excesso de oleosidade ou a sobrecarga. Já o cabelo grosso, por sua vez, pode demorar mais tempo para reagir a um tratamento capilar.
A avaliação do diâmetro do cabelo vai fornecer informações úteis quando você optar por um tratamento de reparação, adicionar coloração ou ondulação.
Com a experiência, o toque do cabelo é normalmente suficiente, mas um calibrador irá testar com precisão o diâmetro do cabelo. Coloque um cabelo no medidor e leia a escala para determinar o tipo de cabelo.
Leve em consideração que o cabelo é, frequentemente, oval e ligeiramente achatado de perfil. Por isso, deverão ser realizadas várias leituras para analisar corretamente o diâmetro.

Teste de elasticidade
A elasticidade do cabelo pode determinar o estado do córtex capilar, pois o cabelo bem hidratado é elástico.
Para testar a elasticidade, pegue num fio de cabelo com ambos os polegares e indicadores, e estique o cabelo – pode ser necessário tirá-lo da cabeça do cliente.
O cabelo saudável estica cerca de 1/3 ou mais do que seu comprimento e volta ao tamanho original. O cabelo danificado pode não voltar totalmente. Enquanto o cabelo seco ou quebradiço pode partir quando colocado sob tensão (esticado).
Use os resultados dessa análise para verificar se são necessários cuidados adicionais antes de qualquer tratamento capilar.
Teste de alergia
Em casos raros, um reação alérgica pode provocar vermelhidão, inchaço e bolhas. Por isso, um teste de alergia ou outro avaliação deve ser realizado antes da aplicação do produto, mesmo em clientes que já aplicaram coloração anteriormente.
Esse teste deve ser aplicado 48 horas antes da execução do tratamento químico propriamente dito, numa área de aproximadamente 1cm x 1cm, na parte interior do cotovelo do cliente.
Com um cotonete, aplique uma pequena quantidade de creme colorante – mais ou menos do tamanho de uma ervilha na região mais fina dessa área do corpo e deixe que ele atue por 45 minutos.
Passado esse tempo, remova o creme colorante com água morna. Se alguma reação ocorrer durante os 45 minutos ou nas 48 horas seguintes à aplicação, a cliente deve lavar esta zona imediatamente e não aplicar nenhuma coloração.
Este teste serve como uma importante precaução, mas é preciso considerar que, mesmo com a sua realização, é possível que o cliente sofra algum tipo de reação ao colorir o cabelo. Isso porque o teste de alergia não é uma garantia vitalícia, sendo recomendado consultar um médico especializado em caso de dúvida.
Teste de incompatibilidade e de sais metálicos
Alguns produtos que o cliente possa ter usado no cabelo, podem reagir adversamente aos químicos utilizados no seu salão.
Entre estes, os encontrados com mais normalmente são os restauradores de coloração, que podem deixar resíduos químicos de sais metálicos, fazendo com que o cabelo fique verde, úmido ou quebradiço, quando combinado com peróxido de hidrogénio ou agentes químicos similares.
É comum que o cliente esqueça ou mesmo não mencione a utilização de um produto. No contexto dos restauradores de cabelo, a terminologia sugere que o cabelo é verdadeiramente restaurado para a sua cor original. Porém, não é o caso.
Se houver suspeita de utilização anterior de um produto de base química ou se for possível que um tratamento anterior não tenha sido removido, faça o teste:
- Misture 40ml de peróxido de hidrogênio de 20 volumes (6%) com 2ml de amônia;
- Corte algumas amostras de cabelo do cliente (se certificando de que é da área suspeita) e prenda-as com algodão ou fita adesiva;
- Coloque as amostras de cabelo na solução por 30 minutos;
- Se o cabelo mudar de cor, se houver formação de bolhas ou a solução estiver quente, não realize qualquer procedimento com peróxido de hidrogênio.